
Não sei se Ariano Suassuna iria gostar ou não desse segundo filme, mas sei que, por mais que tenham tentado, ele destoa muito do texto original. O que realmente é fantástico no primeiro filme não é a atuação, a cinematografia, ou qualquer outra coisa (apesar de que praticamente tudo é muito bem feito), mas o fato de que eles adaptaram quase que diretamente o que provavelmente é a melhor peça teatral do gênero já escrita no Brasil, quiçá no mundo. E a Globo poderia ter despejado um zilhão de reais, mas é impossível escrever um roteiro construído a partir do que acontece no primeiro Auto sem parecer uma tentativa desesperada de ganhar dinheiro em cima de uma memória afetiva compartilhada. E isso não é demérito do roteirista do segundo filme, mas mérito do Suassuna por ter escrito algo tão fantástico que qualquer outro texto parece malfeito em comparação.
Antes a Globo tivesse despejado um zilhão de reais. Eles trouxeram um ar mais cinematográfico pra esse segundo filme, ao contrário da vibe meio teatral do primeiro, o que... faz sentido, apesar de eu não curtir tanto. Mas o que mais estragou o filme, mesmo, foi o uso de tanto painel de LED. Deus está muito, mas muito triste com tanto painel de LED.
Dá pra fazer coisa legal com painel de LED (aparentemente usaram em Mandalorian e ficou bonitinho), mas acho que a produção não leu direito o manual e deixou o contraste todo fudido. A iluminação horrível e meio avermelhada, completamente estranha, me deixou com dor de cabeça o filme todo, e foi uma enorme distração. Absolutamente horrível. Em comparação com as imagens naturais do primeiro filme, que foram feitas in loco, as cenas do Auto 2 pareciam muito, mas muito piores que qualquer chroma key-zinho feito com um lençol verde e um premiere pro crackeado. Os personagens se confundiam com o cenário e era difícil se localizar na tela. E absolutamente tudo dava dor de cabeça. Acho que eu acabei sentindo isso mais do que o normal (talvez por que eu seja míope, sei lá), mas acho que todos tiveram uma experiência objetivamente negativa nesse aspecto. E olha que eu vi o filme no cinema, com uma tela enorme, no escurinho e tudo.
Enfim, preferia re-assistir o primeiro filme duas vezes à ver esse segundo. Pelo menos deram um papel bom de nordestino coitado ao Matheus Nachtergaele, que direto forçava um oxente em um ou outro filme horroroso feito pra paulista. Adoro o cara, mas puta que pariu ninguém aguenta mais paulista fazendo filme sobre o nordeste, não aguento mais filtro amarelo, não aguento mais trilha sonora de lenga lenga lenga tenga, sotaque ruim, dona Maria vá buscar água no açude que os boi tá com sede, puta que pariu sabe.
Enfim, viva Ariano Suassuna i guess